Hoje não tem marmita – Quarto de desepejo, diário de uma favelada – resenha
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Temos hoje uma grande carência habitacional, onde muitos têm nada para chamar de lar ou quando tem é precário e outros compram casas milionárias com dinheiro vivo.
O dinheiro é vivo, mas muitas casas são mortas. Sem vida, sem alegria. Piscinas lindas vazias. Talheres de prata, comida importada.
“Quando eu crescer eu compro uma casa de tijolos para a senhora.”
Um barraco numa favela que não existe mais tinha muito mais vida que muitas mansões, esse barraco era ocupado por Carolina Maria de Jesus. Escritora traduzida em dezenas de países, mas que foi esquecida após pouco tempo depois da fama de seu livro “Quaro de despejo, diário de uma favelada”.
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.”
Quem anda hoje pela região onde a história de “Quarto de Despejo” se passa não vai a reconhecer no livro, tudo mudou, favela demolida, carros pra todos os lados, metrô que vai e vem. Mas algo ainda é igual, a miséria, pobreza e exclusão. Pessoas moram de baixo de pontes, outras morrem de frio ao lado do rio Tietê poluído.
Dizem que a água de um rio nunca é igual, mas alguns rios da sociedade brasileira são circulares, sempre retornam, muitas vezes piores e mais poluídos que no passado.
“Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se no lixo.”
Enquanto o governo apoia a destruição das florestas, garimpo ilegal que mata os rios e os humanos do entorno, estimula a boiada passar, pessoas trabalham diariamente catando produtos jogados ao lixo para poderem vendê-los em locais de tratamento de reciclagem. Prestam um trabalho importante para eles e para toda a sociedade.
Nossa sociedade precisa de uma reciclagem.
“Como é horrível ver um filho comer e perguntar: “tem mais? Esta palavra “tem mais” fica oscilando dentro do cérebro de uma mãe que olha as panelas e não tem mais.”
Carolina era catadora de papel e outros materiais que poderia vender. Assim sustenta seus filhos, escreve no diário que vira um livro, passa fome e sofre preconceitos. Recicla sentimentos.
Hoje você não vai ganhar marmita devido suas escolhas políticas.
Não, você nunca ganhou e nunca vai ganhar marmita. Não importa suas escolhas, parte da população brasileira sempre passou e sempre passará fome pois uma pequena parte da sociedade (que é topo ou se acha topo) sempre viu e sempre verá como vantagem ajudar apenas no Natal com brinquedos e fotos para o instagram. “Torto Arado”, “Vidas Secas”, “O Quarto de Desepejo”, o momento atual, sempre mostrou, como dizia Criolo: “você não é nada”.
“Aquelas paisagens há de encantar os olhos do visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da América do Sul está enferma. Com suas úlceras. As favelas.”
Só o amor pode mostrar a verdade, Carolina fazia de tudo para seus filhos, passava fome para que eles tivessem um grão de arroz. Um campo de concentração no centro da cidade, onde apenas um pedaço de pão duro é servido por dia. Viktor Frankl mostrou a importância de ter um motivo na vida, o dela era criar seus filhos e escrever, todo dia escreve, todo dia cata papel, todos os dias vê a violência na sociedade, no quarto de despejo.
Não, hoje não vai ter marmita.
“… fui na sapataria retirar os papeis. Um sapateiro perguntou-me se o meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é aconselhável escrever a realidade.”
“A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”
Ótimo texto, apesar de mostrar a triste realidade de nosso país. Pobreza e descaso com o meio ambiente.
sim, triste mas real… obrigado